Artigo
Business Transformation Culture and Leadership
Descobrir a nossa essência e propósito

Descobrir a nossa essência e propósito

Susana Carvalho | Culture Setting | Managing Partner

A jornada de uma vida

A primeira vez que ganhei clareza sobre qual era a minha Missão – a de desenvolver líderes mais conscientes, equipas e organizações -, e a Visão de estar ao serviço da transformação das organizações em Portugal – foi em 2014. Na altura essa clareza guiou-me na criação da Culture Setting, na finalização do Doutoramento na área da Liderança e Transformação Organizacional, no investimento na minha educação como Coach e Team Coach, na aposta no Leadership Circle. Continuei a dar aulas, trabalhei arduamente para aperfeiçoar as minhas competências e ferramentas através da prática e, olhando para trás, tudo o que fiz, mesmo o menos óbvio, tal como provavelmente tudo na minha vida, ligou-me a alguém, ensinou-me alguma coisa, tornou-me uma pessoa e uma profissional melhor ou deixou simplesmente uma semente para o futuro. Tudo estava interligado. Mas só mais tarde viria a perceber.

Os últimos 3 anos foram talvez os mais extraordinários e improváveis da minha vida e mostram como caminhos não-lineares e não planeados podem conduzir-nos na direção certa, desde que estejamos conscientes acerca de quem somos e da nossa missão e visão para o futuro. Ter decidido um dia fazer o ULab – https://www.edx.org/course/ulab-leading-from-the-emerging-future -, ir de seguida para Oxford e mais tarde para Berlim fazer os Programas da Teoria U – https://www.u-school.org/aboutus/theory-u -, trouxe-me até onde estou hoje – a trabalhar em várias partes do mundo, com o Presencing Institute ao serviço das Nações Unidas. Um conjunto de fatores intersectaram-se e tornaram tudo possível – a minha paixão e curiosidade pelo trabalho do Peter Senge, Otto Scharmer e Jaworski do MIT, e que tem 20 anos, as pessoas extraordinárias que conheci ao longo da minha vida com a mesma paixão e interesse, o manter-me aberta a novas possibilidades e, como não poderia deixar de ser, o sempre surpreendente e maravilhoso acaso. Possibilidades essas que me levaram para momentos de grande desconforto e de crescimento, e que me permitem hoje integrar a equipa mais extraordinária que alguma vez conheci e com quem tento todos os dias personificar a Teoria U e as suas práticas e ferramentas. Quando clarificamos a nossa intenção, tudo se intersecta para nos colocar nesse caminho. E nesses momentos além de nós, está habitualmente alguém que conseguiu olhar para nós e ver mais além o nosso potencial. É essa confiança que muitas vezes é a catapulta para descolar e voar.

“(…)olhando para trás, tudo o que fiz, (…) ligou-me a alguém, ensinou-me alguma coisa, tornou-me uma pessoa e uma profissional melhor ou deixou simplesmente uma semente para o futuro.”

O mundo está em grande disrupção e, neste final de ano, o sentimento que podíamos estar todos a criar um mundo um pouco melhor levou-me a tomar consciência que precisava de compreender o que está nas minhas mãos e ganhar maior clareza sobre o meu propósito de vida. O propósito permite ir além da missão, porque faz a ligação direta à essência, permite inocular (adoro esta palavra) significado e dar maior sentido à vida. Clarificar o nosso propósito é muitas vezes a jornada de uma vida.

O processo criativo

Adoro ferramentas e processos, dos simples e bons, aqueles que nos permitem ir mais longe e ser mais eficazes. Mas depois misturo-os todos e combino-os para explorar o que emerge em cada um deles. O processo de criação de um propósito é acima de tudo uma viagem para, progressivamente, se ganhar maior clareza até que as peças se encaixem. Pode levar dias, meses ou anos.

A Linha da Vida mostra-me os padrões e ajuda-me a conectar com a minha identidade e origens, a ver o que me define como pessoa, quais são os meus valores e no que acredito, no fundo a ver Quem Sou.

O Ikigai permite-me perceber o que adoro, me apaixona, me interessa e faz feliz, e combinar tudo isso com o que me torna única, especial e com a minha vantagem competitiva – o que sei e sei fazer acima da média -, e tomar consciência sobre o que o mundo precisa e está disposto a pagar. Uso esta ferramenta para trabalhar o meu conceito de “Self-Efficacy” e para fortalecer a consciência de que Sou Capaz.

O Business Model You, faz-me refletir na minha marca pessoal e empresarial, nos meus clientes e no meu posicionamento no mercado. Obriga-me a parar para pensar no meu Modelo de Negócio.

O Networking, no sentido de conhecer e aprender com os outros e que tem sido uma fonte de prazer e de descoberta para mim, traz-me perspetiva e divergência. Por vezes esquecemo-nos que muita da nossa aprendizagem é social e por isso estar, ver, ouvir e aprender com outras pessoas, permite-me manter-me aberta a novas possibilidades. Os outros são um exemplo para mim do que é possível, dão-me rede e suporte e lembram-me que Não Estou Sozinha.

Nos Retiros de Meditação ou nas Caminhadas na Natureza centro-me, enraízo-me, silencio a mente e acedo a maiores níveis de clareza. Reconecto-me com amigos o que é uma fonte de energia e vitalidade e carrego as baterias. Ponho-me em 1º lugar e Cuido de Mim.

Nos workshops de desenvolvimento pessoal que costumo fazer com o meu amigo Vasco Gaspar – https://vascogaspar.com -, paro para pensar e ganhar consciência, para escrever e para Criar o futuro protótipo de mim mesma, aquele que me vai aproximar do futuro que quero criar. E depois Experimento, Experimento e Experimento e assim vou criando e ajustando o meu futuro, que vai emergindo e florescendo, às vezes sem pressa, ouras vezes súbita e apressadamente.

“O processo de criação de um propósito é acima de tudo uma viagem para, progressivamente, se ganhar maior clareza até que as peças se encaixem.”

Mas de quando em quando é preciso integrar tudo e todos os elementos com alguém que nos ajuda a aceder à nossa essência, a ver o ser humano… a vermo-nos como ser humano. Fi-lo esta semana com o Paulo Neto, numa sessão de Coaching para descobrir o meu Propósito, e é nesses momentos que as partes, mesmo aquelas que estavam mais lá para trás e enterradas no baú, se interligam e tudo fica mais nítido e começa a encaixar a partir de uma pergunta muito simples: “Quais foram os momentos da tua vida em que te sentiste mais plena, integral e feliz?”

O fim último ou a intenção

Quando me perguntam o que é a liderança gosto de imaginar que liderança é a capacidade que todos temos para influenciar um sistema e de sermos o/a arquiteto/a e, simultaneamente, o/a engenheiro/a, ao serviço de um mundo melhor, com pessoas melhores. Acredito que o nosso poder criativo em potência é extraordinário. O meu, julgo eu, é o de servir em liberdade e pela liberdade de ação e liderança dos outros, uma liderança mais consciente, integral e sistémica.

As palavras consciência, integral e sistémica estão inscritas na minha vida desde 2014, talvez até desde sempre, sem nunca as ter enunciado ou escolhido – na minha tese de doutoramento onde procuro explicar como podemos acelerar ou travar os processos de transformação, na teoria U, no Leadership Circle, na minha abordagem sistémica ao Coaching e Team Coaching. E não será por acaso que ainda estudante de Sociologia a minha paixão e preferência ia para Max Weber que preconizava um espaço de liberdade dos atores sociais, mesmo quando constrangidos. Acho que no fundo sempre senti um apelo para ajudar e desenvolver os outros e uma inquietação permanente para ajudar a criar organizações humana e economicamente sustentáveis.

Por vezes as coisas levam tempo a ficar claras e visíveis, mas as sementes e elementos, na maior parte das vezes, estão lá… e mesmo sabendo que há, supostamente, um tempo para tudo, não custa nada acelerar um bocadinho o processo de descoberta da nossa essência e do nosso propósito de vida, na esperança que dê mais sentido às nossas vidas, nos ajude a fazer escolhas com maior significado e que estas impactem e sirvam o bem comum.

“(…) no fundo sempre senti um apelo para ajudar e desenvolver os outros e uma inquietação permanente para ajudar a criar organizações humana e economicamente sustentáveis. “